Fala, povo brasileiro!
Poucos momentos históricos são tão ridículos como pudemos assistir ontem, durante a votação do impeachment da Presidente da República pela Câmara dos Deputados, que aprovou, por dois terços da Casa, o processo contra Dilma Rousseff. O placar final foi de 367 votos a favor, 137 contra, 7 abstenções e 2 ausentes. O processo segue agora para o Senado.
Embora “feliz” por algo estar acontecendo neste País, ainda não foi dessa vez que vi nossos deputados federais trabalharem de domingo. A maioria parecia estar se divertindo bastante e adiantando sua propaganda eleitoral.
Nunca ouvi tanta bobagem por tanto tempo, embora tenha feito questão de assistir tudo do começo ao fim. Saliva e/ou palavras, todos cuspiram ontem.
Nunca vi tantos supostos representantes do povo representando suas próprias famílias e interesses. “Pelos meus filhos“, “pelos meus pais“, “por Jerusalém“, “pelos poderes de Greyskull“… Que tal “pelo povo“? (Para ser justo, alguns até disseram isso.)
Talvez somente toda a história da humanidade tenha registrado tanta gente falando em nome de Deus sem procuração Dele. Isso que o Estado é laico.
Nem no “clássico” 7 a 1 da Alemanha contra o Brasil vi tanto deboche virtual em tão pouco tempo. Eu mesmo criei e viralizei alguns memes.
E os que votaram “não“? “Contra o golpe“?! Qual golpe? Mensalão? Petrolão? Pedaladas fiscais? Escolham, por favor. “Pela democracia“?! Como assim? Então essa nobre forma de governo só deve valer até o fechamento das urnas eleitorais? O depois não conta? Ouçam o povo! Afinal, todo poder dele emana, por ele e para ele.
Entre tantas pérolas para o “sim” e para o “não“, um voto “não” considerei bem fundamentado: “Sai Dilma, entra Temer. Sai Temer, entra Renan. Sai Renan, entra Cunha.” Que visão do inferno! “Abandonai toda a esperança os que aqui entram” (“boas-vindas” no inferno concebido por Dante).
Ao final de tudo, lembrei de João de Santo Cristo em seu Faroeste Caboclo, quando percebeu que sua via-crúcis virou circo, com as bandeirinhas, o povo a aplaudir, as câmeras e a gente da TV que filmava tudo ali. E João não conseguiu o que queria quando veio pra Brasília com o Diabo ter. Ele queria era falar pro Presidente [ou Presidenta?] pra ajudar toda essa gente que só faz sofrer.
E para quem estiver com tempo, paciência e (infelizmente) bom humor, (re)assista a famigerada sessão deliberativa do Plenário:
E esse sentimento continua forte em todos os brasileiros que realmente se importam com o nosso País. É triste ver o que anda acontecendo. Será que estamos todos fantasiados de palhaço? Ou somos a plateia?
O lado bom é esse post, que afirmou ainda mais o orgulho que tenho de ter sido sua aluna. Eterno Super! Vida longa!
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Ótimo post como sempre e como é de se esperar.
O comentário sobre os sucessores da Presidente da República é exatamente o que sinto, entretanto, não podemos ficar parados frente a tanta desordem e desrespeito às leis de nosso País devido ao medo do mal que possa vir a substituir amanhã o monstro que matamos hoje; não é fácil, nunca foi nem nunca será. O que deve acontecer é os políticos terem medo de nós (o povo), não nós (o povo) termos medo deles. Se o que tens é a visão do Inferno, sejas o Demônio! Faça o Inferno deles, não nosso. O poder não deve representar abuso; o poder deve representar trabalho. E se não trabalhar vai sair; se não fizer um bom governo vai cair.
Não quero criar uma instabilidade política, jamais, mas quero deixar claro a qualquer um que se não fizer um bom trabalho, nós vamos dar trabalho. E esse é/será o Brasil; ame-o ou deixe-o.
Espero que após a possível queda da Presidente o povo não perca a recém-redescoberta politização; passado a crise, continuamos a luta por um País melhor.
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Thank you, Mr. President.
Pela coragem de matar um monstro de cada vez, pela recuperação da esperança do povo neste País, por lembrarmos quem é o titular do poder em uma democracia, eu voto SIM!
Também não desejo instabilidade política, muito pelo contrário. Ainda assim, si vis pacem, para bellum. Um impeachment é algo lamentável para o País, mesmo que possa ser visto como um mal necessário.
Adorei a ideia “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Essa expressão para amar ou deixar é famosa relativamente ao Direito. Quem sabe essa associação fortaleça a premissa de sermos um Estado democrático de Direito?
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Às vezes penso em desistir, mas algo precisa acontecer! Pior que tá não fica? Ah, fica! Pensemos antes de eleger um candidado! #LutarporumPaísmelhor
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Desistir é entregar o Brasil de bandeja para essa corja, Amanda. Algo precisa acontecer, senão pior que tá fica mesmo. Como nos ensina a Lei de Murphy (em oposição ao slogan do Deputado Tiririca): “Se algo pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível.”
Conhecer os candidatos, gastar um tempo estudando suas propostas, currículos e história é fundamental antes de votar, para evitar (ou minimizar) que algo dê errado (ou muito errado).
“Para que o mal vença, basta que as pessoas de bem nada façam.“
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Sensacional seu post. Traduziu o pensamento de nós brasileiros muito bem! Indignação seria a palavra exata do que senti. Que País é este!!! Mais parecia um programa de auditório… um verdadeiro circo! Lamentável como ofereciam o voto aos seus familiares… e nós onde ficávamos? O resultado que esperávamos enfim saiu… Não sabia se devia rir ou chorar. Abs.
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Obrigado, Bia! Para quem é patriota, politizado e apartidário, o sentimento de indignação, ainda que visto com bom humor (o alívio necessário), é generalizado pelas groselhas de ambos os lados. Melhor que tivessem dito “sim” ou “não”.
O resultado esperado dessa votação enfim saiu (se demorasse mais, era só esperar o fim do mandato), mas também me pergunto se riu ou choro.
“Que País É Este”, além de outra música da Legião Urbana, também é o nome do álbum que nos apresentou a epopeia Faroeste Caboclo, em 1987. Quase três décadas depois do lançamento da música (e do álbum), ainda nos deparamos com a contemporaneidade verdadeira de cada verso.
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Post espetacular! Não poderia ter descrito tão bem a sensação que nós, “o povo”, tivemos ao acompanhar a votação de ontem.
Realmente, foi um palanque de deputados enraivecidos pela sua ausência de ideologia partidária e atitude política, na qual se administra o que alguns enxergaram e tiveram a dignidade de expor no pedido de impeachment, sem se conscientizar de que eles próprios estão ali para fiscalizar o Poder Executivo, e não deixar passar tantas irregularidades e gastos financeiros sem aprovação da Câmara.
Mestre, você conseguiu traduzir, com um texto civilizado, não de escárnio como o comportamento desses políticos no Plenário, nosso sentimento de cidadão.
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Obrigado, Higia! Estava me engasgando com o sentimento aqui exarado e precisei colocar para fora, tal como várias cidadãos com quem conversei durante e após a votação. Escárnio somente pela (falta de) postura de nossos pseudo-representantes.
De fato, uma das funções do Poder Legislativo é o controle de gastos do Poder Executivo, conforme artigos 70 ao 75 da Constituição Federal. Mas passam os dias a negociar benefícios em troca de favores, o que, é bom lembrar, fizeram até mesmo durante todo esse domingo, até a votação.
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